O Green Jobs (Empregos Verdes), novo relatório do WWI-Worldwatch Institute, mostra o impacto da emergente eco-economia detalhando como esforços para combater as mudanças climáticas levam à criação de milhões de “empregos verdes” na agricultura, indústria, serviços e administração.
A ecoeficiencia energética faz parte dos econegócios para a descarbonização do Planeta. O Bundestag, parlamento alemão, votou novas leis para investimentos nas energias renováveis visando a redução da emissão de 250 milhões de toneladas de CO2 em 2020 e uma participação das energias renováveis na produção de 30% da eletricidade no mesmo ano. Com isto, a tecnologia ambiental será quadruplicada até alcançar 16% da produção industrial em 2030, levando o emprego no setor a superar o da indústria automobilística e de máquinas e ferramentas daquele país.
Investimentos na eficiência energética nos edifícios gerarão 3,5 milhões de empregos verdes na Europa e nos Estados Unidos. A reciclagem e a gestão de dejetos empregam cerca de 10 milhões de pessoas na China onde o capital de risco verde duplicou até alcançar 19% do total dos investimentos realizados nos últimos anos.
A partir de 23 de julho de 2008 toda nova edificação da cidade de São Paulo somente será aprovada na prefeitura se prever o uso de aquecedores solares. A maior cidade do país e uma das maiores do mundo dá um passo importante para a sustentabilidade. O exemplo de São Paulo influencia o resto do País.
A despeito da sua economia baseada em carvão, o governo e empresários chineses impulsionam a “Revolução Verde” fazendo da China líder mundial em tecnologia foto-voltaica. Seis das maiores empresas de energia solar chinesas têm um valor de mercado de 15 bilhões de dólares e 600 mil pessoas estão empregadas na produção de energia térmica e na instalação de produtos como aquecedores solares de água.
Investimentos em energias renováveis na China atingiram 12 bilhões de dólares em 2007. Para atingir os ambiciosos planos de baixo carbono do governo central serão necessários investimentos de 398 bilhões de dólares, 33 bilhões por ano, para atingir as metas energéticas chinesas estabelecidas para 2020.
Os americanos, deixados para trás pelos chineses, correm atrás do tempo perdido. O estado do Texas, meca de produtores de petróleo é, hoje, o principal produtor de eletricidade a partir da energia eólica dos Estados Unidos. Com 6 mil megawatts de capacidade eólica instalada e mais 39 mil megawatts em construção, terá 45 mil megawatts de capacidade gerada por vento, o que será mais do que suficiente para satisfazer as necessidades residenciais dos 24 milhões de habitantes do estado, permitindo exportar electricidade limpa para os estados vizinhos de Louisiana e Mississippi.
Outros estados americanos instalam seus parques eólicos competindo para o status de potências de vento. As gigantes Clipper Windpower e Brithish Petroleum, consorciadas, constroem o maior parque eólico do mundo em Dakota do Sul (um tradicional estado agrícola) incluindo uma linha de transmissão de energia ao longo de uma velha ferrovia desativada. O novo parque de energias renováveis gerará cinco vezes mais energia que os habitantes daquele estado consomem, podendo exportar o excedente para outros centros consumidores.
A economia energética, turbinada pelo petróleo e carvão, está sendo paulatinamente alimentada por fontes renováveis como eólica, solar e geotérmica. No momento em que a transição avança a um ritmo e numa escala sem precedentes o relatório faz um apelo para que sejam adotadas medidas capazes de garantir trabalho decente com o objetivo de reduzir a pobreza.
Na Nigéria, a indústria de biocombustíveis baseada no cultivo da mandioca e da cana-de-açúcar poderá empregar 200 mil pessoas; na Índia, 900 mil empregos serão gerados na gaseificação de biomassa, dos quais 300 mil na fabricação de fornos e 600 mil em áreas como a fabricação de briquetes e grãos na cadeia de fornecimento de combustível; na África do Sul, 25 mil pessoas desempregadas trabalham agora na conservação como parte da iniciativa “Working for Water” (trabalhando pela água).
No Brasil, iniciativas surgem em diferentes áreas, das usinas de biocombustível, usinas eólicas construções verdes e, sobretudo, no potencial da biodiversidade. Atento ao fato de que o Nordeste tem 52% de todo o potencial de geração eólica do País (75 gigawatts), o que equivale a seis vezes a produção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, Pernambuco lança-se como pólo de geração de energia limpa com a primeira fábrica de turbinas eólicas (Impsa Energy Power). O investimento de R$145 milhões produzirá 200 equipamentos por ano e 1.500 empregos verdes.
Na Bahia, onde fontes de energias renováveis são abundantes, o potencial da biodiversidade para geração de empregos verdes também esta sendo pesquisado. A Universidade Federal de Feira de Santana-UEFS desenvolve pesquisas sobre animais peçonhentos. Proteínas, aminoácidos, sais, toxinas e muitas substâncias de potencial farmacológico podem ser encontrados no veneno de animais peçonhentos, uma nova fronteira para a economia do semiárido onde estão 40% dos nordestinos e 20% da renda nacional. Filão para a indústria farmacêutica que movimenta um PIB de 1 trilhão de dólares.
O relatório Green Jobs, lançado em parceria com o PNUMA-Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Cornell University Global Labour Institute, OIT Organização Internacional do Trabalho, Organização Internacional de Empregadores (OIE) e Confederação Sindical Internacional (CSI), – que juntas representam milhões de empregadores e trabalhadores em todo o mundo – mostra que mercados prosperam nos países onde há apoio político forte e investimento em empresários qualificados e trabalhadores capacitados.
Como no período que antecedeu a ECO 92, no Rio, as atenções e movimentos internacionais voltam-se agora para a Cúpula das Nações Unidas sobre o Clima que acontecerá em Copenhaguem, na Dinamarca, no final de 2009. Até lá, pesquisas, inventos e investimentos estarão no dia a dia das pessoas mudando a economia de um Planeta aquecido que pulou de 2,5 bilhões de habitantes em 1950 para 6,7 bilhões em 2008, emitindo em um dia a mesma quantidade de carbono que os nossos antepassados emitiam em um século.
Para observar a aceleração das mudanças em curso e a necessidade de descarbonização podemos fazer o nosso relatório pessoal observando o dia a dia das pessoas e, principalmente, o das crianças e adolescentes que, estimulados pela mídia e pelas escolas, estão constantemente nos abordando sobre questões ambientais. Esses líderes das próximas décadas convidam-nos a refletir sobre a importância da eco-economia como uma nova ordem mundial. Está nas nossas mãos a responsabilidade de decisões que afetarão as gerações futuras e o principio da solidariedade entre as gerações, invocado.
Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil. www.worldwatch.org.br . Email: eduardo@uma.org.br