“A civilização tem isto de terrível: o poder insdiscriminado do homem abafando os valores da natureza”. Há 24 anos, o emérito Prof. Dr. Miguel Reale, em seu livro Memórias, já traduzia em brilhantes palavras o prejuízo da Natureza frente ao poderio humano.
O zelo pelo meio ambiente insere-se dentro de uma visão específica de mundo e de homem, e se nos vemos como partícula do universo ou se nosso destino como pessoa projeta-se no destino comum dos seres, o tema meio ambiente nos toca profundamente.
A conciência ambiental assume especial relevância na atualidade, para que todos sejamos guardas da natureza, defendendo-a de agressões. A humanidade vem crescendo em escala geométrica sem preocupações com o rastro de destruição que deixa para seus descendentes, pensando exclusivamente em si e seu desenvolvimento e progresso. Há ainda aqueles que se percebem numa perspectiva de futuro-gerações e trazem um esforço crescente para demonstrar como a poluição afeta a natureza.
Estudos apresentados no recente Encontro da Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental, em Portland, Oregon, Estados Unidos, realizado de 7 a 11 de novembro, nos demonstram justamente isso.
É de amplo conhecimento que produtos químicos têm grande impacto ambiental, no entanto as pesquisas realizadas demonstram alterações comportamentais em baixos níveis de exposição. A responsável por um dos estudos, Melissa Schultz, da Faculdade de Wooster, Ohio diz que o maior problema são os efeitos sutis proporcionados pela emissão destes poluentes na natureza. “É fácil dizer se um peixe sofre mudanças anatômicas óbvias (…), o difícil é determinar os efeitos sobre comportamento e acasalamento.”
O estudo de Schultz observou que em concentrações encontradas na natureza, triclosan e triclocarban (agentes antibacterianos encontrados em sabões, desinfetantes, sacos de lixo e outros) alteram o comportamento de peixes adultos da espécie Pimephales promelas.
Um segundo estudo apresentado no encontro, conduzido por Dalma Martinovi, demonstrou efeitos igualmente perturbadores. Os peixes zebra (Danio rerio) expostos a baixas concentrações do antiinflamatório ibuprofeno apresentaram seu comportamento sexual e desova alterados. Isso é explicado porque o ibuprofeno é um inibidor das enzimas COX1 e COX2. Em humanos, essas enzimas diminuem a produção de prostaglandinas, responsáveis pelo processo inflamatório com consequente redução da inflamação e dor. Mas em peixes, as prostaglandinas servem como feromônios, desempenhando papel na desova e comportamento sexual.
Estudos semelhantes têm sido igualmente relatados com frequência demontrando uma maior preocupação com as ações do homem no meio ambiente.
A Constituição Federal do Brasil estabelece que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Este é considerado bem de uso comum do povo, essencial à qualidade de vida. Cabe a todos nós o dever de defendê-lo e preservá-lo. Até que ponto a evolução da nossa espécie terá total liberdade para influenciar a evolução do processo natural da vida na Terra, sem que nos preocupemos com as consequências?
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