O suposto ataque do governo sírio com arma química contra a população civil em 21 de agosto levanta a discussão referente ao emprego de tais compostos como arma de guerra. O atual uso de armas químicas com a finalidade de combater inimigos, não é o primeiro relato na história.
Durante a guerra do Vietnã (1960 e 1975) os EUA empregaram o desfolhante químico conhecido como agente laranja, devido à faixa laranja em volta dos recipientes que continham o agente, o que provocou a devastação das florestas vietnamitas. O agente era a base de 2,4D (n-butil 2,4-diclorofenoxiacetato) e 2,4,5-T (n-butil triclorofenoxiacetato), porém, durante o processo de produção, ocorreu a contaminação com o composto 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (dioxina).
Os EUA lançaram mais de 75 milhões de litros do agente laranja em florestas vietnamitas, aproximadamente 17,8%, (3.100.000 hectares) da área florestal total do Vietnã foi atingida durante a guerra, provocando até hoje diversos efeitos danosos ao meio ambiente e a saúde humana.
Os compostos 2,4D e o 2,4,5-T são potentes herbicidas, o uso destes provocou um extenso desmatamento e trouxe grande desequilíbrio ecológico, afetando a fauna e a flora da região. A dioxina presente no agente laranja é um composto persistente ao meio ambiente, permanecendo por anos no solo e em sedimentos e interferindo na cadeia alimentar através de animais que se alimentam da vegetação contaminada.
A dioxina ainda permanece no meio ambiente após 40 anos do final da guerra. Diversas regiões do Vietnã, como Da Nang (figura 1), localizada na área central do país, e Phu Cat e Bien Hoa, localizadas ao sul do país, ainda estão contaminadas com elevados níveis de dioxina. Estes locais serviram de base americana durante a guerra.
Além da persistência no meio, a dioxina apresenta meia-vida longa, e traz ao ser humano efeitos tóxicos como teratogênese, carcinogênese, comprometimento neurológico, distúrbios hormonais em ambos os sexos, alteração no sistema imunológico e danos à pele, como o desenvolvimento de cloracne.
Segundo notícia publicada pela BBC Brasil, após quase 40 anos do fim da guerra, o agente laranja continua fazendo vítimas. A população vietnamita ainda sofre com elevada incidência de casos de leucemias, tumores cerebrais, câncer no fígado e graves doenças de pele. Diversas crianças vietnamitas ainda nascem com problemas congênitos principalmente na região de Da Nang. Segundo dados da Cruz Vermelha mais de 150 mil casos de malformação congênita estão associados ao agente laranja, a maior incidência no mundo em casos de problemas congênitos.
Somente em agosto de 2012 foram iniciadas operações de limpeza do solo contaminado com o agente laranja, as operações contam com ações do governo vietnamita e americano.
Caso como o ocorrido no Vietnã demonstra que emprego de armas químicas provoca efeitos agudos e efeitos crônicos prolongados à saúde humana e ao meio ambiente, o que torna condenável o emprego de tais compostos.